Aqui vai a continuação do "Era o último dia de férias"... Bem, não sou boa em organização,por isso não separei em capítulos nem nada. Se quiser ver o texto anterior para ter uma ideia de como tudo começou, clique aqui. Vamos ao texto?
"O resto foi sem muitas
complicações, a não ser quando fomos para Paris e Manuela, que jurava que tinha
um francês básico, não conseguia entender uma palavra ou ler uma placa para que
nós finalmente chegassemos ao hotel. Eu a conhecia apenas por oito meses mas
era como se nos conhecessemos por anos. A conheci quando ela era a suposta
paquerinha de Rafael. Eles acabaram virando amigos. É claro que quem é amigo do
Rafa, é meu amigo também. Como ela era nova, eu me oferecia para ajudar na
matéria que ela tinha dificuldade, e aproveitava para falar bem do meu amigo
(ele chegou a me implorar) para que ela percebesse que eles eram “perfeitos um
para o outro”. Foi quando descobri que Manoela não queria nada com ele, e sim
com o capitão do time de futebol da escola, Marco. Bom, mas ela acabou se
desapontando. A essa altura, Rafael nem queria mais saber dela, foi então que
nos tornamos melhores amigas. E logo depois ela começou a falar com o Rafa, e
nós viramos um “trio dinâmico”. Não acredito muito nesse negócio de ter uma
melhor amiga desde pequena. Aliás, acredito, mas reconheço que é muito difícil
achar uma amizade assim. Eu não achei. Minha melhor amiga não é alguem que sou
amiga desde a pré-escola e que cresceu comigo. Meu melhor amigo é uma pessoa
que me conhece a tempos, mas somos amigos a alguns anos, porque antes dissso,
nós apenas nos conheciamos e não éramos amigos. Só ano passado ele virou meu
melhor amigo. Essas coisas levam tempo. De uma coisas eu sei, amizade
verdadeiras acontecem sem querer, com quem você menos espera.
Apesar do nosso fracasso com
o francês, um cara no hotel era brasileiro, e nos ensinou umas expressões e nos
ajudava sempre que podia. Foi facinante ver neve ao vivo pela primeira vez.
Pareciamos crianças brincando de guerra de neve, fazendo anjinhos de neve. A
pessoas de lá são tão sérias e quando paravam e nos observavam, sorriam
brevemente, talvez achando engraçado três adolescentes misturados com um monte
de neve e crianças de três e quatro anos, e continuavam a fazer o que estavam
fazendo antes. Foi um momento bobo, mas inesquecível. Eu percebia os pequenos
detalhes, como a pele branca de Rafael ficando avermelhada por causa do frio, e
seus cabelos loiros ficando quase brancos por causa da neve. Via os cachos de
Manuela se confundindo com os de uma criança que caia em cima dela, um preto
azulado tão lindo e natural. Via um garoto nos observando de longe. Será que
ele estava achando divertido o que estavamos fazendo? Ou pensando que éramos só
pessoas retardadas que haviam sido abandonadas e não tinham tomado conciencia
disso? Nunca vou saber.
Sempre fui atenta aos
detalhes. É uma coisa incontrolável. Isso meio que mudou a uns 3 anos, quando
descobri que tinha miopia e que todos os detalhes que eu enxergava não passavam
de borrões, e que na verdade aquelas coisas bonitas que eu via de longe como o
por-do-sol ou o luar do comecinho da tarde eram ainda mais bonitas. É isso que
me irrita em ter que usar óculos, apesar de eu me odiar de óculos, eu preciso
deles. "
Nenhum comentário:
Postar um comentário